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Pessoando por Lisboa, Velhas Cidades e Outras Eras


O encontro em 2012, antes do reencontro em 2008.

Roteiro


1 - LISBOA: CHEGADAS E PARTIDAS

2 - CONVERSA NO CAFÉ: À PORTUGUESA

3 - EM BUSCA DE SI, EM BUSCA DE NÓS



Obs. Alguns tópicos do Sumário são Assentos comuns a vários Extratos, constituindo-se como nós de conexão entre múltiplas histórias. Seus conteúdos respectivos podem ser encontrados em suas próprias publicações, que são acessadas mediante vínculo (link) no título do Assento. Para retornar de um Assento ao presente curso textual, basta recorrer ao ícone de retrocesso.


1 - LISBOA: CHEGADAS E PARTIDAS.


Tu acorda com a desaceleração do metro, várias pessoas dirigindo-se para a porta do vagão. - Chegamos, te avisa Inês, que já estava desperta há algum tempo. - Estação Picoas. Tu te levanta sonolento, esfregando os olhos, e sai cambaleando, desequilibrado. É um desembarque radiante, com o sol da tarde muito intenso e a claridade invadindo a escada de acesso à rua lateral. - O hotel é praticamente na saída do metro, Inês te informa. - Dá tempo para um ligeiro passeio pelos arredores, tu comenta. Tão logo acomodados no hotel, e após breve volta em torno da Praça Marquês de Pombal, tu e Inês resolvem começar o passeio por uma visita ao velho Pessoa, que não viam desde 2008. Nada mais apropriado ao espírito da busca que tu pretendia empreender. 2 - CONVERSA NO CAFÉ: À PORTUGUESA. Faz tempo que reservaram a cadeira para o poeta. Qual carteira cativa dos estádios esportivos, uma carteira privada em plena rua, espaço aberto, com a cadeira interativa ao lado, para diálogos imaginários. Mal tu chega próximo à mesa em que o poeta se senta demoradamente, ele logo te avista, e pergunta sorrateiro, como se já não passassem quatro anos: - Por aqui, Gil? - Em Pessoa, tu responde, e acrescenta: pessoando por Lisboa e, quem sabe, por velhas cidades e outras eras. Nota o bardo luso tua Inês ao lado, e a atenção se desvia, como se te ignorasse.




3 - EM BUSCA DE SI, EM BUSCA DE NÓS.





Depois do costumeiro encontro de fim de tarde na alfaiataria Domínio do Fato, o reduzido grupo que se reuniu, apesar da chuva pesada que caiu durante todo o dia, resolveu ir assistir a exibição de um novo conteúdo que estreava no cinema da praça.


Como se tratava de uma projeção de curtíssima duração, houve um consenso de que sobraria um bom tempo para debate, e para alguns tomarem uma ou duas doses, ou uma xícara de café para outros.


Segundo o responsável pela programação dos ambientes, o ambiente das Saletas seria mais apropriado para mostrar o conteúdo, e a Saleta 1 foi escolhida, embora o seu formato - um phototrailer - deixasse margem para considerar outros recintos.





A plateia resumia-se ao pequeno grupo. Ao que tudo indicava, a chuva havia afugentado os frequentadores ocasionais, desde os "interessados em geral" até os aleatórios, pessoas que simplesmente estavam nas redondezas e entravam no cinema por mera curiosidade, ou ainda como forma de esperar o horário de chegada de sua condução na rodoviária em frente, talvez de um compromisso qualquer.


Assim, logo que se ajeitaram nos assentos da Saleta 1, as luzes foram apagadas e deu-se início à projeção do phototrailer PESSOANDO POR LISBOA, VELHAS CIDADES E OUTRAS ÁREAS.


Phototrailer PESSOANDO POR LISBOA, VELHAS CIDADES E OUTRAS ERAS, exibido na Saleta 1


Terminada a projeção, o diretor de programação veio informar que, em função do reduzido público e da novidade trazida pelo formato de phototrailer, o debate poderia ser realizado no CaféInês, em vez de uma das mesas temáticas do CineDebatePapo, como de habitual.



Debate entre os participantes do grupo de frequentadores da alfaiataria Domínio do Fato, após a exibição do phototrailer Pessoando por Lisboa, Velhas Cidades e Outras Eras, projetado na Saleta 1.


O Salão de Chá, como era também referido o recinto CaféInês, estava completamente vazio, apesar de não ser lugar espaçoso. O pessoal acomodou-se rapidamente nas cadeiras em torno de duas mesas, mais do que suficiente, e, após os pedidos iniciais ao atendente, o alfaiate tomou a palavra. Era já o esperado, porque ele sempre assumia o comando nessas situações. Tinha lá uma vocação, talvez mais desejada do que efetiva, para a oratória. Nunca tivera a oportunidade de se dirigir a grandes plateias, em majestosos salões, sonho que acalentava. À falta disso, contentava-se com públicos menos numerosos, em ambientes de câmara.


- Esse é o primeiro material rastreado da mais recente transiência do contador e da ouvidora. Veio em formato de phototrailer, um recurso inédito em nosso aparato de monitoria. Cabe, pois, uma explanação inicial sobre o formato. E uma ressalva antecipada de que não estamos totalmente inteirados de suas características, potencialidades e limitações.


À medida que o alfaiate ia discorrendo, o telão de CaféInês exibia trechos do phototrailer, bem como imagens e outras informações complementares sobre o teor da conversa.


- Até porque apresenta certas ambiguidades que se refletem, talvez propositadamente, na própria terminologia estabelecida para a identificação de suas funções e componentes. Não há como não desconfiar de uma provável remissão à origem da palavra photo, luz, mais do que a um suporte reprodutivo, documental, da imagem. E ao significado primário de trailer na indústria cinematográfico, como algo que é exibido a posteriori e não a priori.


- Ou, quem sabe, uma mistura desses sentidos..., arriscou timidamente um dos integrantes do grupo.


O alfaiate já pensara nessa possibilidade, mas não conseguia considerá-la plausível. Não refutou, porém. Aceitou a hipótese.


- Temos um reconhecimento dos campos em que se opera essa transiência?, veio uma pergunta da segunda mesa.


- Como temos dois viajores, nosso Engenho resolveu testar uma confecção energética conjugada: uma dupla energiaria táxtil.


O alfaiate aguardou calmamente que cessasse a gargalhada geral promovida pela verbalização da esdrúxula nomenclatura.


- Certo, poderiam ter simplesmente adotado a denominação de engenharia têxtil de duplo campo, ou coisa que o valha.


- Seria um jogo da velha tridimensional?, ironizou um terceiro.

- Ou quatro, cinco. Ou N, quem sabe?, replicou o alfaiate, visivelmente a contragosto. - Considero que seria mais produtivo não nos preocuparmos com essa questão agora, até porque não temos ainda elementos suficientes para avaliar os possíveis cruzamentos entre canais. Sugiro que nos concentremos no objetivo da transiência, conforme manifestado pelos viajores, e se o conteúdo recebido descortina a consecução do objetivo. Ou qual a expectativa de alcançá-lo e, talvez, em que medida.


- Bem, adotando essa sugestão, acho que o objetivo ainda não foi atingido. O contador confessa ao poeta que encontrou "só uns quase homônimos". E, como respondia à pergunta do poeta, "se havia encontrado seus heteronônimos", deduzo que o objetivo do contador era descobrir se contava também com heterônimos. Contadores, evidentemente. E não poetas.


- É uma dedução bastante lógica. Mas, por que começaria a sua busca por uma livraria?


- Estranho, realmente.


- Penso que podemos ter aí a primeira pista dos cruzamentos de canais. O que a ouvidora responde ao poeta, quando este indaga aonde teria ido o contador?


- Diz que vai "em busca de si".


- Pois...








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