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L. C. Vinholes


O caminho da poesia, como no seu poema,


caminhos

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talvez seja a escolha mais afim, ainda que mais difícil e arriscada, a uma reflexão sobre o significado da obra de Vinholes na construção das tentativas artísticas e filosóficas que me encaminharam, ao longo de algumas décadas, até estes Cantos Correntes.


Assim, no ânimo de emular a concisão de seus escritos poéticos, ouso derivar uma elaboração verbal-visual a partir de uma personalíssima criptografia onomatológica criada pelo próprio Vinholes:





Entretanto, como o alcance dessas relações se estende a diversos campos do fazer e do saber - poesia, música, artes visuais, num meio diverso de culturas e fontes de conhecimento - seria decepcionante, ou frustrante, não cometer a tentativa de aprofundar a reflexão, mesmo diante do inalcançável horizonte dos temas.


Dentre os possíveis caminhos que se apresentam à minha frente, escolho então começar por duas obras de Vinholes que, creio, podem tornar menos árdua a tarefa, e talvez mais simples a compreensão do significado que, com destaque, agregaram aos sucessivos passos que me levaram à correnteza destes cantos.


A primeira obra é Instruções 61, peça reconhecida como sua contribuição pioneira à música aleatória brasileira. Que, curiosamente, foi escrita e estreada no último dia do ano de 1961, no Japão. Um dado que já aponta para a multifaceitada e giratória criação de Vinholes. E que pode ser abordada numa concepção geográfica, a partir dos sinais com que indicou os procedimentos musicais a serem desenvolvidos na peça.


Quatro configurações inscritas numa centena de cartões: um traço curto, um traço longo, um círculo e o espaço vazio do cartão, sem qualquer inscrição. Conforme inserções no selo desta página, estampadas sobre quatro variações da imagem fotográfica do artista.


Quatro cartões, quatro pontos cardeais. Um originário do sul brasileiro que criptografa o próprio nome em acrônimo com a linguagem do nordeste. Um ocidental que capta a essência mais profunda da improvisação num reduto oriental de formalidade extrema.


Na incorporação aos cantos correntes, num período que se avizinha de cinquenta anos, o mais relevante, se não decisivo, é certamente a subjacente marca da concisão, articulada sempre com muito rigor. Seja em obras tão livres como Instruções 61 ou em obras com meticulosa precisão de elementos, caso específico da série de composições Tempo-Espaço, em que o discurso musical segue princípios estruturais de estreita correlação entre altura e duração das notas.


E aí entra a segunda obra que me conduz nestas considerações: a composição Tempo-Espaço XVI, para flauta e canto, com texto extraído de um poema de Haroldo de Campos. Aqui, a correlação incorpora adicionalmente um vínculo estrutural entre os fonemas e as notas musicais. Um campo de especulações entre música e poesia que vem bem à substância artística dos cantos correntes, formada também por esses dois componentes.


Mas, chegando ao ponto central da reflexão, essa conjunção compacta e, ao mesmo tempo, aberta, entre a busca da mais livre expressão e a busca do mais formal rigor, assemelha-se no campo estético às concepções filosóficas do caos e do cosmos, do acaso e da ordem, do fortuito e do legaliforme. Na nomenclatura que adotei, correspodem respectivamente ao EX e ao IN.


E se, ante a ideia e a possibilidade da volição, o desejo talvez seja um infindável percurso pela percepção e conhecimento do universo, o caminho incontornável que se impõe é o estudo constante da realidade, o movimento puro e simples que leva às mudanças, e que também é chamado de evolução.


Não se trata, pois, de um embate entre forças antagônicas, exalando rudeza, dureza, sisudez. No máximo, um debate conceitual sobre questões cruciais da realidade e, dentro dela, dos existEntes. E, ao se deixar levar pela correnteza dos cantos, não faltará no trajeto a suave percepção da leveza, num estudo que, por deleite, lê-se leve.


Um estudo contínuo, persistentemente revisto, dessas questões tem suscitado uma reelaboração ou reconfiguração inacabábel de um poema de Vinholes (es tu do), na busca incessante de respostas ou, quem sabe, das questões que formulam os cantos correntes.



































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