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Viagens no Tempo


O conceito de viagem, ao envolver a ação de um corpo físico deslocando-se entre sítios distantes, implica também um intervalo temporal no trânsito de um lugar ao outro.


A passagem do tempo está sempre implícita na transição, mesmo quando a percepção fenomenológica desse intervalo é de algo imediato, tal qual ocorre em certas histórias de ficção-científica, com a viagem sendo realizada por meios de locomoção instantânea, como o teletransporte na série Jornada Nas Estrelas ou o artefato do Anzol, do escritor Clifford D. Simak, em "O Tempo é a Coisa Mais Simples".


As histórias de ficção-científica, entretanto, costumam idealizar viagens em que o tempo é descolado da condição implícita de deslocamentos nas três dimensões do espaço. Ganha autonomia dimensional, constitui-se em domínio dos instantes, numa equiparação ao espaço, domínio dos locais.


Viajar no tempo transforma-se assim em algo como passear pelo tempo do mesmo modo com que se transita pelo espaço. Ir do futuro ao passado, saltar instantes ou eras, é como ir para frente e para trás, para os lados, para baixo e para o alto. Na suposta equiparação entre as dimensões, ir para frente e para trás seria se deslocar para o futuro e o passado, respectivamente? Ir para os lados seria passar de um fluxo temporal a outro que flui em paralelo, tipo realidades alternativas? E o que seria subir ou descer? Transitar por mundos e universos interiores e exteriores, numa complexidade sistêmica infinita?


Como, então, "o tempo é a coisa mais simples"?

Por uma única e singular diferença em relação ao espaço.


No espaço, o corpo passeia, organismo em transição. A energia que se movimenta concentra sua carga na fisicalidade de suas manifestações. O mundo real. Da ação bruta, direta. Genealogia. Da causa e do efeito. Da entropia, que desfere a seta do tempo.


No tempo, a mente pessoa, consciências em transação. A energia que se movimenta concentra sua carga na mentalidade de suas imaginações. O mundo conceitual. Do pensamento, da memória. Do possível e do impossível. Da criação, que só interfere no tempo de sua reflexão.





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