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Turismo Sustentável e Marketing


Texto previamente redigido a propósito de convite para participar de um evento que, conforme informação recebida, apresentava características de fórum de estudos, reflexões e debates sobre a atividade econômica e, em especial, do turismo em Praia Grande.


Embora o formato real constatado quando da participação efetiva, em 24/09/1997, não correspondesse ao modelo previamente anunciado, o texto foi lido na íntegra.


Posteriormente, a organização do evento produziu uma brochura com um resumo das participações, sendo então este texto reconfigurado num misto de resumo, à semelhança de um relatório.





Turismo Sustentável e Marketing

Gil Nuno Vaz


Pronunciamento no 1o. workshop Turismo em Praia Grande: Novas Tendências e Oportunidades, promovido pela PRODEPG e realizado em 24/09/97





Pretendo apresentar algumas sugestões sobre alternativas de turismo em Praia Grande, colaborando no debate de novas tendências e oportunidades para esta cidade, que vive um momento decisivo de sua economia, estreitamente vinculada ao turismo.


Há alguns anos, a cidade era marcada por um estigma de "balneário popular" com conotações pejorativas. Seus moradores carregavam uma espécie de frustração em sua cidadania.


Uma ação eficiente conseguiu reverter a imagem negativa que pesava sobre a localidade. Transformou a frustração em um sentimento forte de auto-estima. O tipo de sentimento que nos torna orgulhosos de nossas coisas. Que dá vontade de mostrar o que temos, o que fazemos. Mostrar a cara, mostrar a casa.


Esse sentimento é vital para a realização de um bom turismo. É uma excelente condição de base, que Praia Grande já tem.


Mas, apesar do que isso representa como fator de impulso, ainda há muito por fazer. A realização deste encontro, no modelo de uma oficina de idéias, revela que a administração pública está consciente dessa realidade.


O momento histórico da cidade levanta assim uma questão mais ampla: como transformar esse sentimento em realizações que garantam o desenvolvimento do turismo local? Como canalizar essas forças positivas para iniciativas produtivas e eficientes? Como tornar o turismo uma fonte sustentável de renda e riqueza para a comunidade?


E afinal, o que o marketing pode fazer para que isso aconteça, de uma forma segura e permanente? Como fazer do marketing uma ferramenta estratégica para construir um turismo sustentável?


O conceito de desenvolvimento sustentável começou a ganhar popularidade a partir da Eco 92, a segunda conferência mundial sobre meio ambiente, realizada no Rio de Janeiro. Defende a exploração econômica dos recursos naturais dentro de limites que permitam a preservação das riquezas e a recuperação das fontes renováveis.


Transposto para o turismo, e já dentro da ótica mercadológica, significa aproveitar os atrativos respeitando a sua vocação turística, sem descaracterizar o que a localidade tem de essencial. E manter a demanda estável, em níveis que possibilitem a continuidade da atividade turística, dentro das necessidades econômicas da cidade.


Mas o desenvolvimento sustentável não é obtido isoladamente. Não existe desenvolvimento auto-sustentável. As cidades são organismos abertos, mantendo trocas com outras localidades. Fazem parte de um sistema, e na Baixada Santista isso foi oficialmente reconhecido, recentemente, com a constituição da Região Metropolitana.


Finalmente, é preciso ocorrer uma simbiose proveitosa entre os componentes do sistema, uma troca de interesses de modo que cada um consiga potencializar ao máximo as suas vantagens.


São, assim, três conceitos que não podem ser perdidos de vista: Sustentabilidade, Sistema e Simbiose. Em tempo de teoria gerencial de 5 "esses", dos famosos 3 "esses" do turismo (sun, sea, sex, que eu traduziria por sol, sal e sexo), não seria condenável, diante disso, acrescentar mais esses 3 "esses" de Sustentabilidade, Sistema e Simbiose, ainda que não possuam o fascínio e o "glamour" dos outros.


As sugestões que quero apresentar vão percorrer os três conceitos referidos.


Num primeiro momento, o desenvolvimento sustentável depende de uma ação turística sintonizada e concentrada. É preciso eleger um fator característico de atratividade, e fazer com que os vários segmentos da sociedade direcionem os melhores esforços para explorar esse filão em profundidade.


Praia Grande ainda não possui um conceito mercadológico fortemente definido, uma posição específica e, o que seria melhor, exclusiva no mercado turístico. Este é um fator de grande importância para a fixação de qualquer localidade na mente dos consumidores turistas.


Está na hora de decidir que posição ocupar no mercado. Vencido o período da imagem negativa que carregava, Praia Grande deve agora, no meu modo de ver, identificar o que tem de específico e diferencial para oferecer. E trabalhar seriamente, profissionalmente, para valorizar o seu produto.


Vem então a pergunta: que caminho escolher para o turismo de Praia Grande?


O procedimento para identificar o fator diferencial de atratividade de uma cidade é tão importante quanto delicado, pois mexe com a vontade popular. Seria desejável conhecer mais a fundo as expectativas da população. Para fazer um bom planejamento de marketing de uma cidade é recomendável começar por uma pergunta fundamental: "O que os moradores querem que a comunidade seja ou se torne?"


Feita esta ressalva, vou expor aqui a minha sugestão. Afinal, estamos numa reunião que tem exatamente esse objetivo, de que idéias sejam colocadas para, depois, ser estudada a sua viabilidade mercadológica, e se a mesma encontra apoio da comunidade.


Pela observação do que vem ocorrendo nos últimos anos, em função de sua posição geográfica na Baixada Santista, e da disponibilidade de áreas, eu entendo que Praia Grande apresenta uma tendência muito forte, se não for vocação, para abrigar grandes eventos e encontros. Espetáculos culturais de massa, feiras e exposições comerciais. Vejo esta cidade como um polo de realizações de médio e grande portes, apoiadas por uma estrutura que pode evoluir progressivamente, à medida em que a ação de marketing for apresentando resultados.


Mas, como salientei anteriormente, a Sustentabilidade depende muito do Sistema, e o Sistema Turístico mais imediato ao qual Praia Grande pertence é a Baixada Santista. A cidade deve saber, por um lado, aproveitar ao máximo o que tem de específico e, por outro, estabelecer relações estratégicas de trocas com os parceiros municipais.


Como realizar na prática essa interação?


O momento vivido hoje pela Baixada Santista, constituída como Região Metropolitana, oferece circunstâncias e condições institucionais apropriadas para reunir os nove municípios em um organismo turístico supramunicipal. Uma organização que tenha por objetivo fomentar o turismo receptivo de uma forma bastante direcionada e eficiente.


Minha segunda sugestão, envolvendo o Sistema, é de que os municípios da Baixada Santista, junto com empresários do trade turístico, e setores direta ou indiretamente beneficiários da atividade turística, constituam um Escritório de Turismo e Convenções, um Convention & Visitors Bureau, para a região.


Com colaborações financeiras não necessariamente elevadas, seria possível canalizar os esforços para uma ação conjunta melhor direcionada, evitando desperdício de recursos. Isso exige maior grau de conhecimento mercadológico e profissionalismo, qualidades que deveriam nortear a escolha do corpo diretivo e técnico dessa instituição.


Finalmente, apresento minha terceira sugestão, relacionada com a necessária Simbiose entre Praia Grande e a Região Metropolitana. Mas, para isso, é preciso definir antes, também para a Baixada Santista, uma posição forte no mercado de turismo, para ser explorada em profundidade.


Isso cria uma grande interrogação, pois a questão, na Baixada Santista, tem a dimensão de um problema crônico. Afinal, o que a Baixada Santista espera do Turismo? Ou ainda: a população da Baixada Santista quer realmente o Turismo? Volto, pois, antes de expor minha proposta, a fazer a ressalva de que um bom planejamento de marketing deve passar por uma consulta à comunidade.


Prosseguindo:


As praias são, sem dúvida, um fator importante de atratividade. Mas, em um ambiente de concorrência mercadológica, certamente não estão em posição competitiva vantajosa. Acho que, sem abrir mão de mostrar o nosso encanto de beira-mar, a Baixada Santista possui um fator de atritividade mais forte. Mais específico, com maior apelo diferencial. Só que ainda não foi adequadamente focalizado.


Esse fator tem a ver com a História, com a importância histórica de nossa região no desenvolvimento da nação brasileira. Mas não se esgota nas marcas do passado, na beleza de algumas igrejas coloniais ou nos restos arquitetônicos de edifícios antigos. O que importa reter como apelo turístico em nossa História é o que ela representou no processo histórico e, mais importante ainda, que continua a representar, vivamente, em nossos dias.


Esse fator é o pioneirismo que sempre caracterizou, e continua a caracterizar, a nossa atividade em vários campos de atuação.


Não vou aqui fundamentar a veracidade desse pioneirismo. Um ligeiro olhar sobre o Passado histórico pode comprovar o que afirmo. Uma observação mais aguda e atenta sobre o Presente vai mostrar quantas iniciativas pioneiras na arte, na cultura, na ciência, na economia, na política, nasceram e nascem na Baixada Santista.


O que é preciso, falando em termos de marketing, é colocar essa realidade em evidência, cultivar, estimular essa característica. Perseguir com afinco o objetivo de tornar essa realidade uma marca, uma posição forte no mercado.


E como conseguir isso? Trazendo para a Baixada Santista acontecimentos de ponta. Importantes estréias de artistas e propostas culturais, lançamentos da moda, e de produtos em geral. Congressos, com contribuições ao pensamento filosófico e científico. Isso significa apenas intensificar o que já existe, reforçar a realidade, tornando-a mais visível, mais ostensiva.


Sugeri que Praia Grande poderia ser um setor na Baixada Santista especializado em eventos. Uma parte dos eventos elencados poderia ter a marca do pioneirismo, enfatizando a característica regional. O nosso turismo certamente ficaria fortalecido no mercado.


Outro tipo de simbiose. Uma das últimas Bienais Internacionais de São Paulo adotou o tema Tradição e Ruptura, hoje uma expressão de uso comum, mostrando lado a lado a força dos clássicos e a busca de novas propostas expressivas. Todo o mês de agosto temos em nossa região, próximos, um Festival Internacional de Folclore - Fest in Folk, trazendo a força da tradição para a Baixada Santista, aqui em Praia Grande, e um Festival Internacional de Música Nova, mostrando em Santos as propostas de ruptura musical que ocorrem no mundo. E nem sabemos explorar essa incrível dualidade.


Seria certamente algo muito mais profundo do que elaborar um Calendário Turístico integrado, iniciativa válida que é constantemente reivindicada, mas quase sempre se restringe a uma programação de eventos sem uma visão mercadológica regional e ampla.


Penso, portanto, que Praia Grande, em sua busca de novas tendências e oportunidades, deve estar atenta para esses 3 "esses": definir o seu fator central de Sustentação no turismo, desenvolvendo-o com perseverança, sem perder de vista a articulação com o Sistema, e procurando a melhor Simbiose com o ambiente regional. Tenho certeza que, com isso, irá acrescentar mais um "esse" a esta lista. O "esse" de Sucesso.








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