Numa antologia do grupo Picaré, movimento de poesia marginal formado por estudantes universitários no princípio dos anos de 1980, em Santos, os poemas, dois, de Fausto José captaram especialmente minha atenção. Um, era Resíduo. O outro, Rebotalhos.
O segundo me instigou a compor música para aquele texto encriptado. Até porque eu havia praticamente terminado de escrever uma peça (Requiem) que lidava com a mesma formulação de linguagem. Talhar a fonética das palavras.
Só que, no caso de Rebotalhos, o procedimento era inverso. Fausto subtraía do texto as vogais, deixando-as subentendidas nos espaços vazios dominados pela rudeza sonora das consoantes.
Musicalmente, seria muito mais difícil construir um discurso verbal acusticamente inteligível, percepção que o espaço gráfico, visual, do poema facilitava ao leitor a decodificação do texto. E isso foi levando a instigação para um plano secundário. Nunca abandonado, entretanto. Latente, como à espera do momento apropriado para emergir.
Esse momento demorou décadas. Mas chegou. Não diretamente, entretanto. Chegou por meio de outro poema de Fausto, Reggaezinho, que fazia parte do zine Beco Afro. Situação um tanto reversa à história de Rebotalhos. Quando li Reggaezinho, recuperei de imediato um pequeno motivo rítmico típico do reggae que me perseguia há anos, algumas décadas já. E de imediato a letra de Reggaezinho encaixou naquela breve célula. Virou Beco Afro Reggaezinho.
Foi então que Rebotalhos voltou à cena, já como tema central de um pretendido ciclo de canções que remeteria àquele princípio dos anos de 1980, a uma série de apresentações musicais ocorridas na concha acústica de Santos, que músicos, cantores e bandas ocuparam durante dois fins de semana numa iniciativa de apoio ao centro de estudantes da cidade. Alguns registros dessa situação estão em...
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