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Rebole a Bola

Gil Nuno Vaz


Pensada originalmente para coro infanto-juvenil, Rebole a Bola acabou extrapolando os níveis usuais de dificuldade técnica para essa faixa etária, ou seja, resultou uma composição de temática infantil, mas para interpretação por coro adulto e profissional.


Esforços posteriores de desenvolver a ideia nos termos técnicos imaginados no princípio levaram a cansativas e insatisfatórias tentativas, que nunca chegaram a ser finalizadas.


Os dois documentos a seguir trazem a partitura (com instruções técnicas de montagem) e informações complementares sobre os poemas, com indicações sugestivas para a exploração literária dos poemas.


















REBOLE A BOLA

 

A.

 

na bola existe gente

na bola existem sonhos

na bola existem coisas

que só na bola existem

a bola bola idéias

que rolam como bola

que correm pelas ruas

que batem contra os muros

na bola gente que sonha

sonhei que andei, que corri, que cansei.

que parei, que sentei, que deitei, que dormi

e que no meu sonho havia

um outro sonho

esculpido (os escultores sonham assim)

florescendo (os jardineiros sonham assim)

amoroso (os namorados sonham assim,

assim, assim)

 

B.

na bola existe gente

na bola existem sonhos

na bola existem coisas

que só na bola existem

a bola bola idéias

que rolam como bola

que correm pelas ruas

que batem contra os muros

na bola coisas que dão idéias

as flores só são possíveis

recultivadas:

o cravo brigou com a rosa, foi por ciúme

a rosa ficou doente, foi de tristeza

o cravo pediu desculpas, arrependido

e a rosa ficou chorosa, foi de alegria

a vida só é possível

reinventada

 

D.

na bola existe gente

na bola existem sonhos

na bola existem coisas

que só na bola existem

a bola bola idéias

que rolam como bola

que correm pelas ruas

que batem contra os muros

na bola rebole a bola

gente, sonhos, coisas, idéias

rebole a bola

gente, sonhos, coisas

rebole a bola

idéias

 

a bola

   bola

rebola

a bola

o mundo

 

 

 

Referências no poema (abaixo)

 

O primeiro texto em negrito é o início do poema Sonho de Um Sonho, de Carlos Drummond de Andrade (Sonhei que estava sonhando / e que no meu sonho havia / um outro sonho esculpido.). Foi publicado no livro “Claro Enigma” (Rio de Janeiro: José Olympio, 1951), mas eu a encontrei no livro “Reunião Drummond – 10 livros de poesia” (Rio de Janeiro: José Olympio, 1971: 2a. ed.), à página1172.

 

O segundo texto em negrito é o início do poema Reinvenção, de Cecília Meirelles, publicado no livro “Vaga Música” (Rio de Janeiro: Pongetti, 1942). Eu a tirei da terceira edição  de “Cecília Meirelles – Obra Poética: volume único” (Rio de Janeiro: José Aguilar Editora, 1972).

 

Os textos das canções infantis foram extraídos do livro “Cantos Infantis”, de Yolanda de Quadros Arruda (São Paulo: Vitale, 1960), página 67 (O cravo e a rosa) e página 94 (Passa, passa, gavião). Este último começa dizendo “Passa, passa, gavião! / todo mundo passa / Os cavaleiros fazem assim / Os cavaleiros fazem assim / Assim, assim / Assim, assim / Assim, assim”.

O jogo infantil (sonhei que sonhava etc) eu usei de memória, nunca vi qualquer referência dele em livros.

 

Eu procurei elaborar um texto básico em que, a partir de uma canção infantil conhecida (Rebola-bola, que também está no livro da Yolanda Arruda, à página 118), fosse desenvolvida uma idéia própria. A canção de referência seria apenas o motivo para uma idéia diferente. Então, eu comecei mudando o sentido do Rebola-Bola, que se refere ao movimento físico das crianças dançando. Eu mudei ligeiramente o título para “Rebole a bola”, transpondo o significado do corporal para o mental. Rebolar passou a representar reimaginar, repensar, no sentido de gíria do verbo “bolar” uma idéia, uma proposta. “Rebolar” seria repensar, reconfigurar uma idéia. A “bola” passou a representar não apenas um objeto de jogo, mas o próprio ato mental da criação (“bolar”), a cabeça enquanto centro do pensamento (“fulano não é bom da bola”) e, finalmente, a bola enquanto globo terrestre, o mundo.

 

Com isso, escrevi um texto próprio e resolvi incorporar outros textos, como os poemas de Drummond e da Cecília Meirelles. Mas, da mesma forma, não queria apenas musicar aqueles poemas, mas sim desenvolver outros textos a partir deles. O mesmo com relação a canções conhecidas (O cravo brigou com a rosa, Passa-passa gavião etc). No limite da exploração da idéia, achei que o procedimento deveria ser estendido às pessoas que executassem a canção.

 

 

REBOLE A BOLA

 

A.

 

na bola existe gente

na bola existem sonhos

na bola existem coisas

que só na bola existem

a bola bola idéias

que rolam como bola

que correm pelas ruas

que batem contra os muros

na bola gente que sonha

sonhei que andei, que corri, que cansei.

que parei, que sentei, que deitei, que dormi

e que no meu sonho havia

um outro sonho

esculpido (os escultores sonham assim)

florescendo (os jardineiros sonham assim)

amoroso (os namorados sonham assim,

assim, assim)

 

B.

na bola existe gente

na bola existem sonhos

na bola existem coisas

que só na bola existem

a bola bola idéias

que rolam como bola

que correm pelas ruas

que batem contra os muros

na bola coisas que dão idéias

as flores só são possíveis

recultivadas:

o cravo brigou com a rosa, foi por ciúme

a rosa ficou doente, foi de tristeza

o cravo pediu desculpas, arrependido

e a rosa ficou chorosa, foi de alegria

a vida só é possível

reinventada

 

D.

na bola existe gente

na bola existem sonhos

na bola existem coisas

que só na bola existem

a bola bola idéias

que rolam como bola

que correm pelas ruas

que batem contra os muros

na bola rebole a bola

gente, sonhos, coisas, idéias

rebole a bola

gente, sonhos, coisas

rebole a bola

idéias

 

a bola

   bola

rebola

a bola

o mundo

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