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Paralaxe


Prenascen‡a, composi‡Æo musical cuja partitura ‚ trans­crita a seguir, foi estreada no dia 17 de outubro de 1978, com o Quarteto Martins Fontes e soprano Helo¡sa Castel­lar Pe­tri. A apresenta‡Æo aconteceu na Asso­cia‡Æo dos M‚dicos de Santos, du­rante o XIV Festival M£sica Nova. A partitura traz um outro  t¡tulo, entre parˆnteses: Paralaxe.

 

Este segundo t¡tulo ‚ uma referˆncia que aparece em v rias outras pe‡as, todas com nome duplo: Preƒngulo (Paralaxe Zero), estre­ada pelo grupo Quorum em 29/09/74, no X Festival M£sica Nova, em Santos; Moteto e Glosas (Paralaxe de Can‡äes e de Gestos), estreada pelo Madrigal Ars Viva em 27/11/76, em San­tos; e mais algumas, ainda nÆo apresentadas publicamente.



Em Prenascen‡a, o primeiro plano ‚ caracterizado pelos sons da viola e do vio­loncelo (observadores), o ob­jeto pelos violinos (o primeiro violino conforme visto pela viola, e o segundo con­forme visto pelo violoncelo), e o fundo pelo canto.

 

A m£sica ‚ dividida em  duas partes. Na primeira (A), que vai at‚ o compasso 30, h  um movimento em que o plano sonoro dos observadores vai se aproximando dos planos do ob­jeto e do fundo. Isso ‚ representado pela correla‡Æo de de­terminados pa­rƒmetros musicais com fen“menos f¡­sico-ac£s­ticos (efeito Dop­pler) e outras associa‡äes (maior proximi­dade do plano sonoro permite reconhecimento de detalhes, como in­tervalos menores e r¡t­mos mais comple­xos).

 

 Na se­gunda (B), que toma os 90 compassos posterio­res, o-corre um movimento de recuo inverso ao movimento an­terior. Di- vi­dida em trˆs se‡äes de 30 com­passos cada (B.1, B.2 e B.3), essa parte traba­lha o mesmo mate­rial da primeira, retrogradan-do o plano do objeto, reelaborando o plano dos observadores e revelando trechos nÆo expostos do fundo, tudo isso atrav‚s de um deslocamento das posi‡äes relativas de cada plano.

 

PRENASCEN€A

 

Esse jogo de movimentos, em cada composi‡Æo, ‚ relacionado a um contexto extra-musical, atrav‚s de um roteiro em que os deslocamentos de objetos e imagens no espa‡o correspondem … evolu‡Æo da mat‚ria sonora.  um projeto para futura elabo­ra‡Æo de montagens cˆnicas, audiovisuais ou outros meios per­tinentes ao contexto, ao qual o t¡tulo principal alude. No caso de outra pe‡a mencionada (Paralaxe Zero), um dos observa­dores, representado por um cantor, nÆo atua na primeira parte, devido … omissÆo de letras que ocorre no poema Plurip‚talo, base da composi‡Æo. O ƒngulo da paralaxe se reduz, assim, a uma virtualidade. O t¡tulo principal ‚ Preƒngulo.

 

 

Em Prenascen‡a, o contexto imaginado ‚ a movimenta‡Æo de duas naves espaciais, que sondam um sistema planet rio. O ce­n rio de fic‡Æo-cient¡fica, bem como o t¡tulo, tem a ver com uma afirma‡Æo do escritor Arthur Clarke. Para ele, os insti­gantes hori­zontes da ex­plora‡Æo espacial farÆo o ser humano experimentar uma nova Renascen‡a1, per¡odo marcado por intensa necessidade de novas fronteiras, sentimento de busca que, para o autor de 2001: Uma Odiss‚ia Espacial, ‚ o impulso vital da cria‡Æo art¡stica. No seu entendimento, quando um povo vive uma fase de expansÆo geo­gr fica, a arte tamb‚m requer espa‡os amplos, projeta-se em dire‡Æo ao exte­rior. Sobre a arte do fu­turo, arrisca algumas conjeturas: re­flexos de gravi­dades menos densas nas solu­‡äes arquitet“nicas e na dan‡a, e o impacto vi­sual de paisagens completamente dife­rentes da Terra provocando mu­dan‡as nos padräes est‚ticos das artes pl sticas.

 

Diante de tais cen rios, torna-se tentadora a utiliza‡Æo de uma textura musical t¡pica dos filmes de fic‡Æo-cient¡fica, com sofisticado emprego de sons e recursos eletr“nicos. Pre­nascen‡a, no entanto, ‚ escrita para o atemporal instrumento natural que ‚ a voz humana, e o datado (nÆo obstante o fasc¡­nio que continua a exercer) quarteto de cordas.

 

O objetivo ‚ descaracterizar qualquer figura‡Æo sonora de situa‡äes e ambientes, para enfatizar a natureza intr¡nseca dos meios de expressÆo sobre os quais a fic‡Æo-cient¡fica pouco especula: a poesia e a m£sica. A ambiguidade desses sig­nos entra em choque com a  preocupa‡Æo narrativa das hist¢rias do gˆnero, que precisam descrever linearmente o desconhecido.

 

Por motivo semelhante, a parte extra-musical ainda est  no papel: nÆo se restringir a uma versÆo contemporƒnea da m£­sica descritiva, program tica, poema sinf“nico ou pe‡a carac­ter¡stica. O roteiro ficou aguardando por condi‡äes t‚cnicas mais adequadas para criar o tipo de envolvimento pretendido: retomar o gesto da crian‡a, que pisca alternadamente os olhos, dedo em riste diante do nariz. O est gio atual da inform tica multim¡dia come‡a a oferecer essas condi‡äes, com a simula‡Æo de mundos imagin rios pelos programas de realidade virtual.

 

 o pr¢ximo passo: um programa interativo de investiga‡Æo e descoberta, pela experiˆncia, dos signos virtuais da para­laxe. Prenascen‡a, limiar do Renascimento.

 

 

 

1. CLARKE, Arthur C. Perfil do Futuro. Petr¢polis, Vozes. 1970, p. 101.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

C  O  L  O  M  B  O

 

 

 

 

 

 

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