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Oito Compositores


Esta publicação reúne dois artigos, escritos em função de compromisso estabelecido com um veículo de mídia impressa de Santos (SP), em meados da década de 1990, para a escrita de artigos críticos sobre música, em bases de contribuições regulares.


Ambos não chegaram a ser publicados, o que, aliado à falta de regularidade que já vinha marcando a publicação de crônicas anteriores, levou à desistência do autor em dar continuidade ao compromisso.


Os textos apresentam forte relação com experiências musicais praticadas por um grupo de oito compositores vinculados ao laboratório de Linguagens Sonoras do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. O primeiro artigo é sobre o CD brasil! new music! volume 4, do grupo Novo Horizonte de São Paulo, com direção de Graham Griffiths, trazendo músicas desses autores. O segundo inclui considerações sobre esses trabalhos a propósito de um concerto no Festival Música Nova.



Música e semiótica, o pensamento dentro dos sons

  

Gil Nuno Vaz

 

 

Após o recente lançamento do livro "De Sons e Signos - música, mídia, contemporaneidade", escrito por pesquisadores do programa de Comunicação e Semiótica da PUC-SP, as pessoas interessadas em música e semiótica dispõem de mais uma produção reunindo as duas áreas. Trata-se do CD "Brasil! New Music! Volume 4", do grupo Novo Horizonte de São Paulo, lançado pela EDUC, com apoio da FAPESP.

 

O disco apresenta obras de oito compositores, também ligados ao programa de Comunicação e Semiótica da PUC-SP, que exploram tanto os sons eletrônicos, gerados no laboratório do Centro de Linguagens Musicais da instituição, como os sons de instrumentos tradicionais, com o grupo regido pelo maestro Graham Grittiths, tendo a participação da pianista Lídia Bazarian e da soprano Simone Foltran.

 

Duas versões da composição Conferência, de Sílvio Ferraz, uma instrumental e outra para instrumentos e fita DAT, funcionam como abertura e fecho do disco. O compositor coordena o Centro de Linguagens Musicais em conjunto com Fernando Iazzetta, que comparece no disco com a peça Interato, considerada um dos primeiros trabalhados realizados no Brasil no terreno da interatividade intérprete-computador em concerto ao vivo.

 

Dois compositores que tiveram sua carreira ligada à música popular estão também no disco. Hélio Ziskind participou do grupo Rumo, em fins dos anos 70 e início dos 80, cujo trabalho se caracterizava pela pesquisa de interrelações entre texto e melodia na canção popular. A proposta do grupo foi depois aprofundada em estudos desenvolvidos pelo mentor do grupo, o compositor Luiz Tatit, hoje professor da USP, onde Hélio Ziskind se formou em composição. Convidado para implantar o Laboratório de Linguagens Musicais da PUC-SP, Ziskind apresenta neste disco sua peça 8 Clocks, para conjunto de câmara, que tem como base os estudos do compositor sobre o tempo musical. O outro compositor com passagem pela música popular é Hermelino Neder, que também participou do movimento da produção musical independente dos anos 80. Ambos têm em comum ainda o trabalho em trilhas sonoras, em áreas como teatro, cinema e TV. A composição de Neder no disco é Sete o prelúdio em estado rítmico, um exemplo da sua produção voltada a criação de estruturas modulares que se destinam ao ensino de composição para crianças, outra área que o aproxima de Ziskind, que ganhou em 1995 o prêmio Sharp de canção infantil.

 

A presença feminina no disco está representada pelas compositoras Vera Terra e Denise Garcia. A primeira faz, em ...on and beyond the piano..., uma leitura lírica das possibilidades do piano preparado, inovação introduzida por John Cage há cerca de 50 anos. Denise Garcia trabalha sobre um dos conceitos abordados no livro De Sons e Signos, a "paisagem sonora", além de outras referências, como a música acusmática, produzida sem a presença dos intérpretes. Sua peça Par lui explora as regiões sonoras entre a voz falada e o puro evento sonoro.

 

Finalmente, o CD traz a peça Modelagem VII, de Edson Zampronha, que é a contrapartida instrumental de uma peça anterior (Modelagem VI), em que o compositor opera as transformações de um som quando "envelopado" por outro. E também Finismundo, de Harry Crowl, a peça mais longa do disco, sobre texto de Haroldo de Campos. Aliás, a esse propósito, vale lembrar que é sempre oportuno fazer constar, nos encartes, os textos poéticos utilizados nas composições, o que não ocorre neste disco.

 

Todas as composições estão diretamente ligadas a teses de doutorado ou a pesquisas em curso, desenvolvidas por seus autores. Apresentam em comum a proposta de investigar o que denominam "o pensamento contido nos sons", que não se confunde com o pensamento humano que se manifesta em forma de sons. A diferença está em que este último diz respeito às evocações exteriores que os sons provocam, sentimentos, alusões a imagens, movimentos e situações. Na concepção semiótica que embasa as composições, a organização dos sons já é em si uma forma de pensamento, não especifica ou exclusivamente o pensamento humano, mas uma das manifestações de um princípio inteligente do Universo. O que difere, em relação às pesquisas anteriores voltadas para novas possibilidades de construção da linguagem musical, é o foco na questão do significado do próprio objeto sonoro.

 

O disco pode ser encontrado diretamente na livraria Vozes, localizada na PUC-SP (R. Ministro de Godoy, 1213 - 1º andar ou encomendado pelo fax (011)3873-3359 ou por e-mail (sferraz@exatas.pucsp.br).

 



 Novos rumos da Música Eletroacústica na abertura do Música Nova

  

Gil Nuno Vaz

 


No concerto que abre o Festival Música Nova, hoje em São Paulo, o público vai poder conhecer composições que representam as mais recentes experiências da música eletrônica. Uma parte das peças representa a corrente da música eletroacústica, que dá nome ao programa, e que consiste na utilização de sons eletrônicos em conjunto com sons acústicos, ao vivo ou pré-gravados, processados eletronicamente ou não.

 

Nessa vertente da criação musical contemporânea enquadra-se a obra "Cortazar" ou "Quarto com caixa vazia", composta este ano pelo compositor Silvio Ferraz, e apresentada em estréia mundial no Festival. É escrita para piano, com a interpretação de Lídia Bazarian, e processamento eletrônico em tempo real. O compositor coordena o Centro de Linguagens Musicais do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em conjunto com o compositor Fernando Iazzetta, responsável pela direção artística e produção do concerto da noite, com a colaboração de Marcos Branda Lacerda e Pedro Paulo dos Santos.

 

Outra estréia mundial, "Clariágua", composta no ano passado por Rodolfo Coelho de Souza, mistura sons eletrônicos e sons pré-gravados. Escrita para clarineta e fita magnética, terá a participação do Luís Afonso Montanha. A parte eletroacústica do concerto é completada com as composições "15º Harmônico", composta nos anos de 1995 e 96 por Rodrigo Cicchelli Velloso, para piano e fita magnética, e "Le Dialogue de L'Ombre Double", do renomado compositor Pierre Boulez, escrita em 1985 para clarineta solo, segunda clarineta gravada e processamento eletrônico.

 

As demais peças do programa representam a produção mais atual da música eletrônica, expressão que vem deixando de ser usada para evitar confusões com o uso que se faz dos processos eletrônicos na música popular de massa. A expressão música acusmática tem sido a referência mais usual para essa criação que se caracteriza pela ausência ou inexistência do produtor de som, uma vez que os sons são gerados por sinais eletrônicos. Todas são executadas em fita magnética. "Círculos Ceifados", de Rodolfo Caesar, é de 1998, enquanto que "Ragmentation", de Edson Zampronha, e "Corda e Cabaça", de Fernando Iazzetta, foram compostas este ano.

 

A música de Zampronha e Iazzetta, bem como a de Ferraz, está estreitamente relacionada a pesquisas de semiótica musical. Fernando Iazzetta  compôs recentemente um dos primeiros trabalhados realizados no Brasil no terreno da interatividade intérprete-computador em concerto ao vivo, a peça "Interato". Edson Zampronha, que concluiu sua tese de doutorado no ano passado sobre notação musical, trabalha também com procedimentos de transformações de um som quando "envelopado" por outro.

 

O concerto tem o apoio de um dos principais centros de criação musical contemporânea, o Laboratório de Linguagens Sonoras da PUC-SP, que teve lançado no ano passado um disco com obras de oito compositores daquele núcleo, todas diretamente ligadas a teses de doutorado ou a pesquisas em curso, desenvolvidas por seus autores. O CD "Brasil! New Music! Volume 4", do grupo Novo Horizonte de São Paulo, registra, além de Ferraz, Iazzetta e Zampronha, que participam do concerto de hoje, obras de Vera Terra, Helio Ziskind, Hermelino Neder, Denise Garcia  e do maestro Graham Griffiths.

 

A proposta de trabalho desse grupo, que se reflete no concerto de hoje, é investigar o que os compositores denominam "o pensamento contido nos sons", que não se confunde com o pensamento humano que se manifesta em forma de sons. A diferença está em que este último diz respeito às evocações exteriores que os sons provocam, sentimentos, alusões a imagens, movimentos e situações. Na concepção semiótica que embasa as composições, a organização dos sons já é em si uma forma de pensamento, como uma das manifestações de um princípio inteligente do Universo. O que difere, em relação às pesquisas anteriores voltadas para novas possibilidades de construção da linguagem musical, é o foco na questão do significado do próprio objeto sonoro.


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