LIRA DE AMBROSIA é um ciclo de canções gestado a partir de uma "brincadeira" lítero-musical que dediquei a Gilberto Mendes, como presente pelo seu nonagésimo aniversário, em 13 de outubro de 2012.
Nasceu assim a canção Für Babette, cujo título estabelece uma conexão inicial pelo intento da dedicatória, ao emular a peça para piano Für Annette, em que o compositor homenageia a cantora Annette Sachs. Refere ainda o filme A Festa de Babette, repercutindo o gosto especial do aniversariante por cinema. E, tendo em vista o ápice desse filme, um jantar de refinadas iguarias, a alusão tem a ver com o almoço de aniversário que o compositor ofereceu a familiares e amigos.
A partir dessa pequena homenagem veio a tomar corpo a ideia do ciclo de canções LIRA DE AMBROSIA, o que começou a acontecer em 2013, numa circunstância que fez coincidir a leitura de um soneto de José Bonifácio (Eu vi Narcina um dia) com a escuta do Prelúdio 4, peça para piano de Gilberto Mendes, quando se deu a percepção de uma potencial acomodação do texto à melodia. A percepção foi cedo confirmada, após alguns ajustes de pequenas repetições de notas, e pausas/respiros do canto que deixavam prevalecer em fins de frases a sequência melódica do prelúdio, puramente instrumental.
Resultou assim a primeira justaposição de música e texto autônomos, que seria o procedimento técnico característico do ciclo de canções Lira de Ambrosia. A palavra justaposição é utilizada com o fim de distinguir esse processo de criação da atividade tradicional de composição de canções. O justapositor não é nem o autor da música, nem o autor do texto. É um terceiro criador que opera o acoplamento entre uma obra musical autônoma (sem texto) e uma obra literária também autônoma (sem música). Ele introduz pequenas adaptações tanto na música como no texto, sem desfigurá-los, de modo a acomodar uns aos outros, os elementos musicais e poéticos.
Für Babette, em que o processo de justaposição, de certo modo já podia ser vislumbrado, foi incluída como abertura do ciclo, seguindo-se quatro canções, com textos de poetas santistas justapostos a prelúdios instrumentais para piano de Gilberto Mendes.
O ciclo LIRA DE AMBROSIA é formado assim por uma peça de abertura (Für Babette), que é uma colagem musical e poética, e uma sequência de quatro justaposições poético-musicais, em que se dá a junção de versos de quatro poetas naturais da cidade de Santos a quatro prelúdios para piano, de início da carreira do compositor. No ciclo, a ideia do texto é ampliada para uma relação entre a pulsão sexual e a morte (Eros e Tanatos), mediadas pelo desejo de eternidade (o graal referido em A Canção do Rei de Tule).
O título do ciclo faz também uma dupla alusão: no espírito da "brincadeira" musical de Für Babette, ao segundo nome do compositor (Gilberto Ambrósio), e explorando a temática culinária da comemoração do aniversário, com suas implicações sensoriais e sensuais, ao néctar dos deuses da mitologia grega. Deste modo, Für Babette pode ser compreendida como uma espécie de couvert artístico da Lira de Ambrosia.
Seu tema literário lida com a relação entre a pulsão sexual e a morte (Eros e Tanatos), mediadas pelo desejo de eternidade (o graal referido em A Canção do Rei de Tule).
A estreia do ciclo aconteceu como parte integrante de um espetáculo cênico-musical, idealizado pela cantora Adriana Bernardes e pelo pianista Antônio Eduardo, UM HAPPENING PARA DOIS GILS, realizado em Campinas, no dia 20 de março de 2015, dentro do II Festival da Música Contemporânea Brasileira, evento que prestou homenagem a Gilberto Mendes, presente ao concerto. Os intérpretes são Adriana Bernardes (soprano) e Antônio Eduardo (piano), que foram responsáveis pela montagem cênica.
LIRA DE AMBROSIA
Sequência das canções do ciclo
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