Em 1987, os compositores Gilberto Mendes, Roberto Martins e Gil Nuno Vaz escreveram cada qual uma peça coral para um concerto em comemoração dos 100 anos do nascimento de Heitor Villa-Lobos.
As obras respectivas dos autores citados, Lenda do Caboclo. A Outra, Saudades de Heitor Villa-Lobos e Chorus (Bis), foram estreadas naquele mesmo ano, no MASP - Museu de Arte de São Paulo.
Para a abertura desse concerto, os três compositores realizaram uma composição coletiva intitulada “Homenagens 1987”, que começava com um coralista anunciando, alto e bom som:
“Aos 100 anos do nascimento de Heitor Villa-Lobos”.
Logo depois, um segundo componente contrapunha:“Aos 90 anos do nascimento de Oscar Lorenzo Fernandez”. Uma parte do coro passava a murmurar trechos dessas frases, criando um ambiente sonoro de fundo. Enquanto isso, novos solistas destacavam-se com intervenções do tipo: “Aos 700 anos da morte de Adam de La Halle”.
À medida que o som coral ia adensando, a referência às efemérides ia tornando-se cada vez menos “redonda”, como: “Aos 28 anos da morte de Heitor Villa-Lobos”, “Aos 24 anos e quatro meses da morte de Nat King Cole” etc.
Todas essas instruções foram passadas verbalmente aos coralistas, deixando a cargo de cada um fazer anotações próprias de orientação individual. Ou seja, sem partitura formal. No conjunto, a peça foi montada a partir das interações nos ensaios.
A peça buscava, evidentemente, lançar uma visão (ou, melhor, audição) crítica ao uso abusivo de homenagens que se tornou costumeiro na sociedade de massa. E que, às vezes, leva a produzir declarações do tipo “Se Mozart estivesse vivo, estaria completando 250 primaveras este ano”. Em coerência com esse viés, os autores optaram por creditarem a autoria aos compositores "Anônimos do Século XX".
Dois anos depois, em que se completava 30 anos da morte de Villa-Lobos, a peça foi repetida em concerto do Madrigal Ars Viva, no XXV Festival Música Nova. O título foi alterado para Homenagens 1989, e a autoria para "Anônimo do Século", no singular.
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