Para adentrar o Cine Inês é preciso subir os dois degraus que separam a porta da antiga edificação, em outros tempos sede da câmara legislativa da cidade, e cadeia, do chão da praça em frente.
Mas ao pisar o pavimento térreo, o recinto do Saguão remete a outro cinema, de uma praia distante, no litoral norte do estado. Um deslocamento que prenuncia a mutabilidade perceptual ao qual os frequentadores vão ser expostos.
Ali já se dão conta da ilusória condição do local como centro de exibição cinematográfica. E a imagem tradicional de um cinema transfigura-se logo na ambiência de um observatório, um posto de monitoria, mirante de experimentos vivenciais em percepções plurais do universo.
Contudo, nem sempre essa transfiguração acontece de imediato. O impacto inicial de um guichê, ao lado da porta de acesso, contribui para o retardamento do efeito. É a Bilheteria, uma peça mobiliária característica dos primórdios das salas exibidoras. A impressão primeira é, assim, de uma decoração original ou, no mínimo, de uma meticulosa e primorosa reconstituição.
O encantamento tende a se dissipar quando o visitante se depara com duas indicações, duas palavras, que ladeiam o guichê: Bilhetes e Lembretes. Bilhetes, sim. Exibição paga, deduz-se. Mas... Lembretes? Serão, os billhetes, lembretes? E logo abaixo da abertura do guichê, a indicação CuraTela INterna, a que se segue o nome da curadora, Madame Pochette. Que, de dentro do guichê, observa, discreta mas atentamente, o movimento das pessoas no Saguão.
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