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Chorus (Bis)

No centenário do aniversário de nascimento de Heitor Villa-Lobos (1987), o Madrigal Ars Viva desenvolveu uma programação comemorativa que contou com obras dos compositores diretamente vinculados ao coro, escritas especialmente para a ocasião.


Gilberto Mendes compôs Lenda do Caboclo. A Outra, Roberto Martins compôs Saudades de Heitor Villa-Lobos, e Gil Nuno Vaz compôs Chorus (Bis).


A motivação central que levou à criação de Chorus (Bis), algo que já havia sido feito em outras oportunidades, foi explorar os limites conceituais que balizam os campos conceituais de música erudita e música popular.


Num dos ambientes típicos desta última, o círculo dos cultivadores do choro, é comum perceber a reverência especial que se faz a Villa-Lobos pela série de Choros, parecendo funcionar como um misto de reconhecimento de um mestre da música culta ao valor artístico daquele gênero - uma espécie de chancela de qualidade - e a dignificação que os seus Choros emprestariam ao mesmo, como manifestação e revelação das possibilidades, do potencial de elaboração que apresentariam. Algo que viria funcionar ainda como reforço aos movimentos de renovação do gênero, ampliando seu conceito original de gênero (choro, chorinho) para o horizonte mais abrangente da música popular instrumental, incluindo vários outros gêneros, o que de certo modo é característica histórica, embora pouco ou quase nada enfatizada.


Essa mirada específica abriu para caminho para explorar uma superposição de duas linguagens típicas de cada campo - popular e erudito - mas com elementos de ambiguidade e não muito comuns à tradição de cada um.

O título já estabelece uma tripla ambiguidade ligada à etimologia da denominação do gênero, à sua característica original de música instrumental, e à vinculação que se costuma fazer com a incursão erudita por Villa-Lobos. A partir da denominação da série Choros (Bis), o título Chorus (Bis) escapa ao significado atrelado à concepção "chorosa" com que os originais chorões tocavam seus instrumentos, para remeter à origem latina do termo (chorus) que é associada ao canto coral, que não só retira a interpretação por instrumentos (pois a composição é a cappella), como eiva o título com o ambiente erudito do canto a várias vozes, que emerge na Idade Média e se afirma na Renascença, com os grandes nomes da música ocidental.


Os dois elementos temáticos da composição sobrepõem uma valsa-canção (Página de Dor) de Pixinguinha (considerado o consolidador do gênero choro) e Índio, e um tema próprio do autor. A melodia citada é a transcrição, com a fidelidade possível, do canto conforme a interpretação de Orlando Silva, com vários deslocamentos rítmicos, principalmente pelo seu uso exacerbado de rubatos, antecipações e retardos. Já o tema próprio é basicamente uma repetição obstinada de uma pequena melodia, que evolui por intervalos de segunda e sétima menor, além de quarta aumentada, às vezes pelo canto alternado por duas vozes, cada qual cantando por intervalos de quarta justa e quinta (ver video e partitura, a seguir).


Composição para coro a quatro vozes, escrita em 1987, em homenagem a Heitor Villa-Lobos, na comemoração pelos 100 anos de seu nascimento. Estreia com o Madrigal Ars Viva, regência do Maestro Roberto Martins, em 29/08/1987, no Teatro Municipal Brás Cubas (Santos), durante o Festival Música Nova.

Obs. Na abertura do vídeo, o título está erroneamente grafado como Choros (Bis), em vez do correto Chorus (Bis), o mesmo acontecendo no programa a seguir.


Programação do concerto em homenagem a Villa-Lobos, com o pianista José Eduardo Martins (parte I) e Madrigal Ars Viva (parte II). O título da composição Chorus (Bis) foi publicado erroneamente como Choros (Bis).












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