Texto publicado em revista comemorativa aos 15 anos do Clube do Choro de Santos, em junho de 2017 (Ano VI, n. 6).
Bem-Vindo ao Clube
Gil Nuno Vaz
Marcello Laranja me convida a fazer parte da revista dos 15 anos do Clube do Choro de Santos, e eu lembro de outro convite, feito há alguns anos por Luiz Pires. Ante a velha fotografia de um bate-papo que mantive com Maurice Legeard, Luiz insistiu que eu escrevesse algo sobre essa figura emblemática do cineclubismo. Convite ao qual não pude atender, e deixei pendente.
Então, ao receber o presente convite, penso que a pendência foi apenas um tempo de espera. Pois a vida me levou a escrever, ou melhor, a completar um texto muito mais amplo sobre os clubes de cinema e arte de Santos, uma história que Inês Cruz, parceira de sempre, não pode acabar, e que agora finalizo em seu lugar.
Daí, um filme começa a rodar na minha cabeça, como numa sessão de cinema de Maurice. Vejo a criação do Clube do Choro, Luiz Pires me agregando ao grupo de fundadores. Passo pelo meu afastamento a seguir, ditado por mudanças que a vida impõe sem consultar. E assisto a algumas cenas fugazes mas marcantes de reaproximações, compartilhando palestras e debates com Marcello. Sequência que me conduz, em 2013, na coordenação do curso de Licenciatura em Música da Universidade Católica de Santos, à realização conjunta de uma Jornada de Estudos do Choro e Musicalização Infantil.
E percebo que estou vendo, na verdade, o episódio recente de um filme maior, que fala do Clube de Cinema, do Clube de Arte, e de outros que foram a base de muitas carreiras artísticas iniciadas nesta região.
Recente? Bem, é também questão de tempo. E de espera. Afinal, são só (?) quinze anos do “devaneio”, palavra usada por Luiz Pires, que deu origem ao Clube do Choro. Aliás, nada mais apropriado do que esse sonhar acordado que, ao suscitar o interesse de novas gerações pelo choro, extrapola as dimensões do gênero musical rumo ao horizonte mais vasto da música popular brasileira instrumental.
E segue, no enredo desse filme, ao encontro e acolhida desse clube de clubes que marcam a resistência cultural de Santos. Bem-vindo ao clube, Clube do Choro de Santos.
