Numa possível variação das ridículas cartas de amor de Fernando Pessoa / Álvaro de Campos, comportaria manter o sentido / sentimento de confidencialidade das palavras partilhadas entre amantes, transferindo-o para o território da intimidade / privacidade das anotações secretas de um diário?
Se a migração encontra guarida em outro poema, como sublinhar o texto com a perplexidade de um teor lírico que se reveste de ironia?
Talvez com o sorriso esboçado de uma melodia que resvala entre o estado de contemplação, quase alheamento, e a aparente permanência, quase repetição de insistente tema. Assim como a Gnossienne n. 2 de Erik Satie.
AO QUE RI DO DIÁRIO
Todos os diários são
Ridículos
Risíveis
Tudo o que se diz no diário
É ridículo
E risível
É o que diz do diário
Quem é tão risível
Que jamais escreveu
Um diário
Ridículo
E o que não diz
Nem nunca dirá
De risível
É o vazio
Ridículo
Do que ri do diário
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