
Era um Zé.
Morava sob a ponte do canal dois, no cruzamento da Avenida Bernardino de Campos com a Rua Joaquim Távora. Num dos corredores laterais usados para acesso, nem sempre periódico, à vistoria técnica das condições de segurança da ponte.
Parecia não ter preferência por um ou outro corredor. Como os seus pertences se resumiam a alguns objetos de uso pessoal, e um esfarrapado cobertor, passar para o lado de lá, ou de cá, não era uma tarefa complicada de mudança residencial.
A maior preocupação era nas noites de chuva pesada, quando as águas do canal poderiam subir de nível, e atingir o patamar onde instalara sua moradia.

No início dos anos trinta do século vinte, a Panificadora São João, com as árvores ladeando o Canal 2 (à esquerda da imagem) e, à direita, o contorno do prédio voltado, em diagonal, para a nascente Rua Princesa Isabel.
Na fisiologia do cotidiano, beneficiava-se da generosidade dos residentes do bairro, que o contemplavam com uma ou duas médias com manteiga (às vezes até um pão na chapa) e uma caneca de café, quando se postava próximo à entrada da Panificadora São João, ali na esquina do canal com a Rua Princesa Isabel.
Essa piedade que despertava nas pessoas deu lugar, um dia, a um sentimento misto de ansiedade, perplexidade e curiosidade.