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A Cidade a Seis Pés

  • Foto do escritor: Cantos Correntes
    Cantos Correntes
  • 30 de dez. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 1 de abr.


Existem cidades naturais e cidades planejadas. E existem as transurbes. Existem?


01 - SEIS PÉS, SETE PALMOS, OITO EM FORMA DE INFINITO


- Quantas cidades tem uma cidade?


Antes de esboçar uma resposta, Audite fitou demoradamente o Alfaiate. Fixamente o fitou, ficou assim por longo tempo, não saberia dizer quanto. A demora parecia não encontrar qualquer sinal de impaciência na face do interlocutor. Aproveitou a pequena condição de vantagem tática para elaborar, não uma resposta, que sequer imaginava qual seria, mas uma pergunta provocadora em devolução. O máximo que conseguiu foi uma imagem técnica:

- Conurbações?

O Alfaiate não hesitou: - Talvez, mas me parece inapropriado. Não estou falando de urbes vizinhas que acabam se ligando pela extensão de suas periferias. Estou indagando se uma cidade pode conter outras cidades. Não é uma ideia de limites que se tocam, mas de espaços dentro de espaços.

Seguiu-se longo momento de pausa, em que Audite procurou rever sua tática de oferecer pergunta no lugar de resposta. Decidiu prosseguir com a mesma estratégia, desenvolvendo a imagem sugerida pelo Alfaiate.

- Ou talvez de limites em outra direção. Ou dimensão.

- Sim?, pontuou o Alfaiate em sinal de curiosidade, uma espécie de aval à continuidade do raciocínio.

- Ao invés de junções horizontais, em que uma cidade pode fazer fronteira com muitas outras cidades, não podemos pensar em limites verticais, para cima e para baixo, também com várias cidades em patamar interiores e superiores?

Não saberia dizer como formulou a pergunta, mas ficou satisfeita em conseguir manter a tática do questionamento num nível mais incisivo de contestação.- Não obstante, perguntou-me sobre o que seria essa comunidade... como chama?


- Costa Mater.


- Ah, sim, não lembrava o nome. Essa comunidade da qual a senhora parece crer que faço parte. Pelo menos, é o que suas discretas insinuações me levam a suspeitar.


- E não é?, disparou Audite, aproveitando o ligeiro desvio de foco do Alfaiate. Virando o jogo, lançou a pergunta à queima-roupa.


O Alfaiate colocou as duas mãos sobre o balcão, e lançou de volta um olhar desafiador, fixando bem lá no fundo dos olhos de Audite.


- Vou lhe responder com a mesma sinceridade com que venho conversando consigo já há alguns dias. Ou semanas. E, desculpe-me pela expressão, estou me lixando para questões à queima-roupa. Estou me especializando na confecção de tecidos à prova de fogo, completou em tom jocoso.


Após a ligeira reprimenda, e balançando a cabeça em gesto negativo, o Alfaiate foi categórico:


- Não, não faço parte de tal comunidade, embora já tenha ouvido falar a respeito.


- Mas sabe onde fica?. Assim, de súbito, Audite abandonou a linha de raciocínio que vinha adotando, para aproveitar o momento e obter uma informação mais prática, mais precisa.


- Não, não sei. Ou pelo menos nunca vi. Pois, na verdade, já ouvi falarem de sua localização. Mas nunca fui lá. Nem sei bem onde fica...


- E lembra do que lhe disseram? Tem um endereço?


- O que me lembro de ter ouvido é que essa comunidade não tem localização fixa. Ou única. Mas guardei que fica perto da Laje.

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