Canção motivada por poema homônimo de Amadeu Amaral,
lido casualmente num livro disponível na sala de espera do consultório de um médico, e imediatamente anotado numa folha de papel.
VILANCETE
(Amadeu Amaral, 1875-1929)
De Poesias Diversas
A Cândido de Carvalho
Dês que estais de mim ausente,
corro de mim mesmo empós,
e encontro-me junto a vós.
E, pois, senhora, não posso
mandar-vos novas de mim:
Como saber do que é vosso,
se não estais tão longe assim?
Para que esta coita aumente,
se pouco sei de ambos nós,
sabeis apenas de vós!
Dês que vos vi, só vos vejo,
embora ausente sejais;
porque eu, com o meu desejo,
não vos leixarei jamais.
Quantas vezes, de repente,
corro de mim mesmo empós,
e encontro-me junto a vós!
Algum tempo depois, essa leitura remete a uma canção dos tempos juvenis de criação, registrada num velho caderno, e inspirada na tradição das baladas inglesas da renascença que várias canções dos Beatles ecoavam.
Rebuscando o antigo escrito no fundo da gaveta, o texto original da canção (cujo título, Patrícia, intentava criar uma alusão, pela escolha de um nome feminino, à canção Michelle, de Lennon e MacCartney) é substituído pelo poema de Amadeu Amaral, e a melodia original é revestida, na textura de um canto coral, por trechos alterados da canção referida, Michelle, e de Girl, além de uma menos evidente breve citação de We Can Work It Out.
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