- Acredita em Deus? perguntou Audite Nova à queima-roupa. - Acredito que sim, disparou de volta o Alfaiate. A resposta veio tão rápida quanto o gesto da costura. A agulha perfurando o tecido pareceu penetrar a sua pele. Uma dor verbal. Recuperou-se a tempo de uma investida contestatória: - Estou enganada, ou evitou dar uma resposta direta? Afinal, acaba de me dizer "acreditar que acredita em Deus", estou certa? - Esse é o truque, comentou ele, com uma expressão que lhe pareceu a de um jogador que blefa. - Se respondo puramente que acredito, estou na verdade afirmando que acredito no seu Deus. Que pode ser o padre eterno ou qualquer outra concepção da divindade. E eu não tenho a mínima ideia do Deus em que você acredita. Então... - Então? ... repetiu Audite diante de uma certa indecisão que notou no ritmo da fala do seu interlocutor. - Então é mais sensato, e ao mesmo tempo mais acolhedor, partir do pressuposto de que acredito, ou tenho a esperança, expectativa, seja lá o que for, de que o Deus em que acredito é o mesmo em que você acredita. - O que nos deixa, não obstante, numa área de dúvidas. - E leva a refletirmos sobre o que realmente interessa. Não no que acreditamos, mas sobre o que estamos falando. - Muito bem, aceito a provocação, concordou Audite. - Por onde começaremos essa reflexão? Tem alguma sugestão? - Bem, há pouco falamos na concepção da Santíssima Trindade, o conceito de que Deus é a reunião de três elementos: Pai, Filho e Espírito Santo. Aceita começar por aí? - Sim, por que não? - Muito bem. Então, permita-me começar por uma pergunta. A senhorinha acredita em seres extraterrestres? E na sua forma mais popular de transporte, os discos voadores? - Os objetos voadores não identificados? - Pois! - Bem, não tenho ainda uma convicção formada. Estou me informando melhor, lendo a respeito, ouvindo pessoas. - Sinto ter que insistir, uma vez que não respondeu à minha pergunta. Acredita ou não em seres extraterrestres e discos voadores? - Sou bastante cética. - Uma vez mais: acredita? Audite achou melhor suspender o joguinho de perguntas e respostas. Suspirou por alguns segundos, talvez um minuto. - Entendi. Acho que sei onde quer chegar. De algum modo, está me dando o troco. Mas um ser extraterrestre não é Deus. - É por aí, então, que podemos começar a conversa sobre a Santíssima Trindade. Ponto de exclamação, ponto de interrogação nos olhos de Audite. - O ser extraterrestre é o Filho?, arriscou. - E quem será o Espírito Santo?, devolveu o Alfaiate.
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