MENINAsSÓ é um conjunto de minicanções escritas para explorar, a partir da linguagem musical, semelhante concepção com que o poeta e compositor L. C. Vinholes norteou a obra poética Menina Só.
Como denominação a essa concepção, Vinholes cunhou o termo "polievroma", palavra-valise gerada pela intercalação das sílabas das palavras "livro" e "poema".
Para Vinholes, "não se trata, apenas, de uma coletânea de pequenos poemas mas de um encadeamento de poemas que se confundem com a própria estrutura do livro."
O ânimo para escrever MENINAsSÓ emergiu de reflexões sobre as considerações técnicas com que o autor sustenta a especificidade do formato, e da curiosidade em tentar desenvolver formato equiparável, a partir de outra linguagem artística. No caso, a música. A imaginação vagou por várias possibilidades, durante muitos anos, deparando-se com ideias tão entusiasmantes como frustrantes, com os resultados, ainda em meio das tentativas, nunca correspondendo às expectativas.
Enfim, cerca de duas décadas passadas, uma imagem fotográfica sugere o caminho, talvez não o "dô" que, conforme Vinholes, perpassa o seu polievroma. Não um só caminho, conforme se inscreve no exemplar com que me presenteou, quase como um subtítulo ao livro. Mas, sim, como uma sequência de bifurcações, iniciada pela escolha da vicinal via da música.
Então, emulandos as considerações de Vinholes sobre Menina Só, vale começar uma introdução do autor à criação de MENINAsSÓ por uma busca das raízes mais remotas do envolvimento com o tema e as questões formais aí presentes.
A mais longínqua referência conduz ao ano de 1972, quando foi escrito HAICAI, uma transposição à brasileira do formato clássico da poesia japonesa que o título da composição refere. A sua concepção motivou nova abordagem, na década seguinte, concretizada no composição SAMBA-EXALTAÇÃO (1982), revista e ampliada mais tarde em SAMBA-EXALTAÇÃO (1996). Nestas, o tema foi parcialmente abandonado, imprimindo maior acento nas características musicais brasileiras.
Entre as duas versões, ocorreu uma aproximação maior com a cultura nipônica, devido à participação da Fundação Pró-Turismo e Eventos do Litoral Santista no evento comemorativo aos 80 anos da imigração japonesa, iniciada no porto de Santos com a chegada dos primeiros imigrantes do Japão em 1988. Entre as artes japonesas, a poesia, a música e o cinema tornaram-se objetos de maior confluência do interesse a partir de então.
Já nos anos 2000, ao tomar conhecimento do polievroma de Vinholes, o ânimo de estabelecer vinculações com esses elementos foi retomado com mais determinação. Foram feitas algumas tentativas de desenvolver relações musicais com os minipoemas de Vinholes, todas frustradas em sua continuidade.
A última delas, no intento de uma articulação entre um sentido oriental - a partir de referências nipônicas - e um sentido ocidental, à moda do jeitinho brasileiro, foi denominado YamaOca, uma junção da palavra japonesa "yama" (montanha) com a palavra "oca" (casa, em tupi-guarani). A incursão se dava pela leitura alterada das melodias de O Despertar da Montanha (Eduardo Souto) e Na Virada da Montanha (Ari Barroso e Lamartine Babo), mediante o uso de variações em escalas pentatônicas e hexafônicas, e aplainando as configurações rítmicas para formulações mais típicas da música japonesa tradicional.
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