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Mané & Quim


Dizem que é troça de aldeia, tipo inside joke, advertiu Audite com intenção de desanuviar a perplexidade que se estampava no semblante de Nihil.


Não importa quais nem quantos manequins ficam expostos na montra da alfaiataria. São sempre Mané e Quim. Manuel e Joaquim. Dois patrícios. E sócios, como parece indicar o ampersand que une os nomes. Podem mudar a cada dia, ou várias vezes durante o dia, ou ali ficarem durante dias, ou semanas. Podem ser manequins masculinos, ambos. Ou femininos. Ou masculino e feminino. Ou criança e adulto. Ou apenas crianças, menina ou menino. São sempre Mané e Quim.


Fazem parecer excentricidade, bobagem, coisa de maluco. Não é. Isso é dissimulação. Há alguma ligação entre os manequins e as pessoas que embarcam rumo aos constelados do Paço Externo do cinema da praça. E penso que o nome da loja tem a ver com isso. Como se fosse um elo entre ambos, por meio do domínio do fato. Uma espécie de comando energético fluindo através dos trajes de que os manequins são vestidos. Revestidos, talvez.


Audite pausou a reflexão, detendo-se a observar os humanequins. Sim, uma mistura de boneco e corpo de carne e osso. Manequins quase humanos, de tão reais que chegam a parecer gente. Em certas ocasiões, dependendo da luz incidente, do momento do dia, chega-se a imaginar que são modelos vivos posando de manequins. Estáticos, sem o mínimo movimento, nem piscar. Acontece qualquer coisa na rua, a freada brusca de um carro, alguém que passa correndo em frente à vitrine, e a gente espera que os manequins vão ter um reflexo involuntário, que vão se mexer numa reação espontânea.


São disfarces, sinto. Muito especiais, muito eficientes. E certamente encobrem algo muito importante. E desafiador. Ou perigoso. Quem sabe proibido. Pode estar aí a razão desse jogo velado. Vamos ter que ficar atentos. Fingindo-nos de sonsos. Mas vigilantes. Deixou de ser uma auditoria. É, sim, uma investigação. Cuidemos.


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