A estréia mundial da ópera "Café", com música de Hans-Joachim Koellreutter sobre libreto de Mário de Andrade, foi um evento de incalculável importância para Santos. Apreciei essa delícia em sete saborosos goles, sete motivos pelos quais a Cidade está de parabéns pela iniciativa:
1. A beleza do texto de Mário de Andrade. A sua contundência social e política. Sua atualidade. Falando de Santos, o porto do café, fala da realidade brasileira.
2. O impulso que certamente vai dar à produção operística nacional. Faz parte do carisma de Koellreutter, de sua figura polêmica, fomentar a vida musical. Algo que, como se fosse missão, vem fazendo há quase 60 anos. É um merecido tributo que a Cidade lhe faz, em nome do Brasil.
3. A música criativa de Koellreutter, que misturou habilmente linguagens e recursos diversos, numa verdadeira proposta pós-moderna. Atonalismo com tríades perfeitas, samba com dodecafonismo, narração ao vivo e irradiação radiofônica, percussão corporal, coro grego com movimento popular. O maestro alemão supera seu estilo, de sons rarefeitos, esparsos e espaçados, influência que herdou da música oriental, principalmente da Índia e do Japão. Aos 81 anos, sempre buscando o novo.
4. A qualidade da ópera. O cenário funcional de Gianni Ratto. A direção precisa de Fernando Peixoto. A narração bem pontuada de Serafim Gonzalez. O trabalho meticuloso da Orquestra Sinfônica de Santos, com o maestro Luís Gustavo Petri à frente. Os solos expressivos de Margarita Schack. A participação marcante dos dedicados cantores e regentes dos quatro corais.
5. É arte que faz pensar, que provoca a reflexão crítica, coisa cada vez mais "obsoleta" nestes tempos de efeitos especiais e de produtos prontinhos para consumir. E desafia equivocados conceitos e padrões de bom-gosto, afirmando que ópera e orquestra sinfônica não são peças de museu, mantidas apenas para reproduzir os clássicos. São organismos vivos, interagindo com o nosso tempo, apresentando a arte contemporânea, controvertida.
6. O retorno publicitário, gratuito, que Santos ganhou no amplo destaque que o evento teve na mídia nacional. Comprovando que a arte contemporânea culta de qualidade é fator de interesse. Inserida na proposta de lembrar ao País que Santos tem 450 anos, a encenação da ópera fortalece a imagem de nossa cidade como núcleo histórico gerador de propostas culturais, políticas e sociais. Uma vocação real, que apenas precisa ser trabalhada com persistência e objetividade, para trazer consequências positivas para o turismo. Enquanto isso, fãs de Beto Carrero sonham em transformar Santos numa mini-Disney, com monorails e parques aquáticos.
7.Mais um pouquinho de "Café", por favor.
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